Quando o assunto é tecnologias para baterias e veículos elétricos, o pesquisador do CINE Hudson Zanin, 42 anos, é uma das referências no Brasil – reputação conquistada por meio de uma sólida atuação científica e uma intensa atividade de difusão do conhecimento.

Hudson se formou em Física pela UFSCar em 2005. Buscando caminhos para aplicar o conhecimento de forma mais direta, ele fez mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica na UNICAMP, com projetos de pesquisa da área de materiais. Além disso, a sua preocupação por difundir amplamente o conhecimento científico o levou a cursar a especialização em jornalismo científico do Labjor – UNICAMP entre 2008 e 2010, bem como a produzir textos para blogs e vídeos para o YouTube.

O foco na pesquisa em armazenamento de energia começou em 2012, no pós-doutorado, quando Hudson teve oportunidade de desenvolver materiais para supercapacitores no INPE e de destrinchar a eletroquímica de baterias e supercapacitores na University of Bristol, na Inglaterra.

Em 2016, ele se tornou professor da UNICAMP na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação e criou seu grupo de pesquisa. Sabendo que, na área de armazenamento de energia, ele teria competência e oportunidades para fazer contribuições relevantes para a sociedade, o jovem pesquisador concentrou os esforços da sua equipe no desenvolvimento e otimização de baterias e supercapacitores.

Em 2018, quando o CINE foi criado, Hudson se uniu ao programa de Armazenamento Avançado de Energia (AES, da sigla em inglês) do centro. Em 2020, ele criou, dentro do CINE, na UNICAMP, o primeiro laboratório da América do Sul dedicado à manufatura de protótipos de baterias e supercapacitores, dando mais um passo no seu objetivo de formar profissionais bem preparados para gerarem inovações na indústria. Mais tarde, liderou a criação do Centro de Manufatura, Validação e Certificação de Baterias da UNICAMP, que foi inaugurado no ano passado.

Até o momento, ele orientou mais de 60 trabalhos de pesquisa de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, os quais geraram dezenas de artigos científicos publicados em algumas das revistas internacionais mais renomadas no meio acadêmico.

Nos últimos anos, Hudson também tem atuado na difusão de informações técnicas relacionadas à transição energética no seu perfil no LinkedIn, que conta com mais de 28 mil seguidores. Além disso, ele tem proferido cursos online sobre tecnologias para a transição energética e é frequentemente entrevistado em podcasts e matérias jornalísticas sobre o assunto.

Desde 2024, Hudson Zanin é o coordenador do programa de Armazenamento Avançado de Energia do CINE. Sediado na UNICAMP, o AES conta hoje com mais de 60 membros (professores, pós-doutorandos e estudantes de doutorado, mestrado e graduação) de diversas universidades brasileiras, para realizar projetos de pesquisa e desenvolvimento em novas baterias, supercapacitores, reformadores de etanol e células a combustível.

Nesta entrevista, o professor Hudson fala um pouco sobre os desafios do programa.

O programa AES vem estudando e otimizando diversos tipos de baterias e supercapacitores. Por que é importante desenvolver tecnologias de armazenamento de energia alternativas ou emergentes, como, por exemplo, as baterias de sódio, enxofre ou lítio-ar?

O que realmente precisamos são tecnologias úteis e eficazes para o armazenamento avançado de energia, especialmente diante do crescente desafio de incorporar fontes renováveis à rede elétrica. Esse desafio se intensifica devido à limitação na expansão das redes de transmissão e distribuição. Estamos crescendo a um ritmo muito mais acelerado na implantação de novas usinas solares e eólicas do que na construção de novas linhas de transmissão. Isso gera uma dificuldade constante em casar oferta e demanda de energia.

Armazenar energia em baterias seria uma solução ideal — se não fosse pelo alto custo e pelo fato de que, atualmente, o Brasil não possui nenhuma fábrica de baterias em operação. Com isso, tornamo-nos altamente dependentes de fornecedores internacionais, o que compromete nossa segurança energética. Nosso sistema ainda é majoritariamente hidrelétrico, baseado em grandes bacias, e precisa urgentemente de soluções complementares viáveis.

Na divisão de Armazenamento Avançado de Energia, estamos em busca de tecnologias emergentes que permitam ao Brasil alcançar independência e soberania energética. Ou seja, que o país não dependa do exterior para consolidar seu setor elétrico. Nesse contexto, tecnologias como baterias de fluxo redox, baterias de sódio-íon, lítio-enxofre, lítio-ar, supercapacitores, reformadores de gases e células a combustível de óxido sólido tornam-se fundamentais como opções viáveis para o armazenamento de energia no futuro próximo.

Quais são os grandes objetivos científicos do programa de pesquisa AES e quais os principais desafios que o programa tem que enfrentar para alcançar esses objetivos?

Atualmente, na segunda fase do CINE, a divisão de Armazenamento Avançado de Energia está concentrada no desenvolvimento de materiais avançados e no estudo de conceitos modernos e disruptivos de baterias, com foco nos dois primeiros anos do projeto. Após esse período inicial, iremos direcionar nossos esforços para as tecnologias mais promissoras do ponto de vista técnico e econômico, aprimorando a prototipagem dos dispositivos e buscando elevar seu nível de maturidade tecnológica (TRL) de 1-3 para 5-6.

Com esse avanço, pretendemos aumentar a tensão e a corrente dos dispositivos, de forma que eles possam, de fato, ser aplicados em soluções de engenharia. Isso permitirá o desenvolvimento de sistemas como BESS (sistemas de armazenamento de energia em baterias), eletropostos, conversores de energia e veículos eletrificados.

Concretamente, de que forma os resultados dos trabalhos do programa AES podem beneficiar a sociedade?

A maior participação de tecnologias industrializadas no PIB fortalece a geração de riqueza local, impulsiona a criação de empregos e permite que as pessoas possam consumir, comprar e viver com dignidade.

Além disso, estamos falando de tecnologias que permitirão uma maior integração de fontes renováveis — como solar e eólica — à rede elétrica, além do desenvolvimento de sistemas que também contribuirão para a melhoria da mobilidade urbana e do transporte de pessoas e cargas.

Por isso, o desenvolvimento das tecnologias que estarão em uso daqui a 5 – 10 anos é a principal obsessão da divisão de Armazenamento Avançado de Energia do CINE.

Saiba mais sobre o programa de Armazenamento Avançado de Energia do CINE.