Pesquisadores do CINE desenvolvem célula solar de perovskita mais durável

Um estudo realizado na UFABC apresenta uma nova forma de mitigar a rápida degradação das células solares de perovskita. O problema, que limita a utilização desses dispositivos no cotidiano, tem desafiado os pesquisadores da área em busca de soluções viáveis.
Atualmente, as células solares de perovskita constituem uma tecnologia fotovoltaica muito promissora. São tão eficientes quanto as de silício e têm custos de produção menores. Além disso, são leves, flexíveis e semitransparentes, o que abre numerosas possibilidades de aplicações, como janelas, roupas ou barracas capazes de gerar energia elétrica a partir da luz do Sol.
Entretanto, a comercialização dessas células esbarra na sua baixa durabilidade, causada pela degradação que os materiais da família das perovskitas sofrem quando são expostos a condições de umidade e temperatura ambiente, seja durante a sua produção, seja durante seu uso. Essa deterioração impacta o desempenho das células solares e, portanto, a sua durabilidade.
Em um artigo científico publicado no periódico Solar Energy Materials and Solar Cells, a equipe da UFABC apresentou uma nova forma de produzir células solares de perovskita mais duráveis. O maior diferencial do processo é que pode ser realizado sem o rigoroso controle de umidade e temperatura que existe nos laboratórios dedicados a pesquisar esses dispositivos.
“As células solares deste trabalho foram obtidas em condições ambientes, sem grandes controles de umidade, o que pode ser mais compatível com as condições de preparação industrial”, diz o professor André Sarto Polo (UFABC), pesquisador do CINE que liderou o trabalho.
Modulando a composição das perovskitas
A família das perovskitas reúne materiais de composições químicas diversas. Todos eles têm em comum a estrutura, formada por íons de carga positiva (cátions) e negativa (ânions). As perovskitas baseadas em cátions de metilamônio (MA+) e de formamidínio (FA+) são as mais estudadas para uso em células solares.
Neste novo estudo do CINE, os autores incorporaram quantidades crescentes de cátions de formamidínio em perovskitas baseadas em metilamônio, caracterizaram cada um dos materiais obtidos e, com eles, montaram células solares. A produção e a caracterização dos materiais e dispositivos foram realizadas em ambientes com umidade relativa do ar de 40 a 60%.
Para testar a sua estabilidade, essas células solares foram expostas a temperatura e umidade ambiente durante 90 dias. Ao longo desse período, os pesquisadores estudaram sistematicamente as propriedades de todos os dispositivos com o objetivo de investigar a influência da adição de formamidínio no desempenho das células solares.
Enquanto as células solares sem FA+ tiveram uma acentuada queda na eficiência logo depois de montadas e deixaram de funcionar aos 30 dias, as células com mais de 25% de FA+ mantiveram 80% da eficiência no final dos 90 dias.
“Este trabalho demonstra como a incorporação de cátions de FA+ em perovskitas à base de MA+ causa um aumento da durabilidade das células solares de perovskitas fabricadas e medidas em condições ambientes”, resume o professor Polo.
De acordo com ele, isso ocorre porque a adição de formamidínio gera um aumento no tamanho dos grãos que formam a estrutura cristalina da perovskita, reduzindo a extensão total das bordas. Como as bordas são pontos de acúmulo de umidade, a perovskita sofre uma menor degradação e a célula solar mantém o seu bom desempenho por mais tempo.
A pesquisa abre perspectivas para desenvolver células solares de perovskita mais duráveis que possam ser produzidas com custos menores em condições mais amigáveis ao ambiente industrial.
O trabalho foi realizado dentro do doutorado de Lucas Polimante e contou com financiamento da Fapesp, Shell, CNPq e Capes, além do suporte estratégico da ANP.
Referência do artigo científico: Lucas Polimante, Juliana Pereira da Silva, Fabio Furlan Ferreira, Andre Sarto Polo. Enhancing the stability of methylammonium-based perovskite solar cells prepared in ambient conditions by adding formamidinium cations. Solar Energy Materials and Solar Cells 285 (2025). https://doi.org/10.1016/j.solmat.2025.113522
Membros do CINE que participaram do trabalho: Lucas Polimante (doutorando) e André Sarto Polo (pesquisador do programa Geração de Energia).
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André Sarto Polo
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