Pesquisador do CINE lidera desenvolvimento de fotoeletrolisador escalável
Um artigo científico recentemente publicado no prestigiado periódico ACS Energy Letters apresenta um sistema capaz de produzir hidrogênio sem gerar emissões de carbono, usando apenas luz solar e água (recursos gratuitos e abundantes) e materiais amplamente disponíveis no Brasil. Um protótipo do equipamento, que é um fotoeletrolisador, foi produzido e testado pelos autores do trabalho com sucesso, tanto no laboratório quanto ao ar livre.
Fotoeletrolisadores ainda não estão no mercado, mas representam uma interessante possibilidade para a produção de hidrogênio verde. Diferentemente dos eletrolisadores convencionais, estes equipamentos são autossuficientes do ponto de vista energético; eles não precisam se conectar a uma fonte de energia para funcionar porque possuem um importante componente, o fotoânodo.
O fotoânodo é um dos dois eletrodos de um fotoeletrolisador. Ele é capaz de absorver luz solar e utilizar diretamente a sua energia para promover uma série de reações eletroquímicas que, no final, resultam no desprendimento do hidrogênio da molécula de água. Entretanto, a produção em escala de fotoânodos eficientes e estáveis, usando materiais abundantes e de baixo custo, tem desafiado a comunidade científica há várias décadas.
“Neste trabalho, apresentamos um avanço essencial nesse caminho, ao superar um dos principais gargalos da área: a obtenção de um fotoânodo de hematita eficiente, estável e escalonável”, diz Flavio Leandro de Souza, professor da UFABC, pesquisador do LNNano – CNPEM e membro do CINE, que liderou a pesquisa.
A hematita é um óxido de ferro abundante na natureza, considerado muito promissor para a fotoeletrólise, principalmente porque ele não se degrada em contato com a água. No novo trabalho, os autores conseguiram aumentar a eficiência do material sem diminuir sua estabilidade, por meio da adição de pequenas quantidades de óxidos de alumínio e zircônio, que são materiais disponíveis no Brasil.
Preocupados com a escalabilidade dos processos, os pesquisadores desenvolveram um método de produção dos fotoânodos que pode ser levado à escala industrial. Com ele, a equipe produziu 100 fotoânodos, todos com as mesmas propriedades. Usando esses eletrodos, os autores montaram um sistema modular: 10 fotoânodos formam um fotoeletrolisador, e dez desses equipamentos operando em conjunto podem formar um módulo de um metro quadrado.
Nos testes realizados em laboratório com um simulador de luz solar, o sistema funcionou de forma estável durante 120 horas. Além disso, um protótipo formado por dois fotoeletrolisadores foi testado ao ar livre e manteve a mesma eficiência verificada no laboratório, além de demonstrar robustez.
O desenvolvimento e os testes da pesquisa foram todos realizados no CNPEM por um grupo de seis pesquisadores. A equipe contou com a colaboração do professor Renato Gonçalves, do IFSC-USP, para construir o simulador de luz solar de grande área que foi usado nos testes laboratoriais.
Atualmente, os autores estão trabalhando no desenvolvimento do outro eletrodo do fotoeletrolisador, o cátodo. A ideia é que esse dispositivo também use, apenas, a luz do Sol como fonte de energia. “O próximo passo, já em andamento, é um módulo operando 100% com irradiação solar, com cada fotorreator composto por fotoânodo e fotocátodo”, anuncia o professor Flavio.
De acordo com o cientista, o sistema seria ideal para uso em indústrias que precisam de hidrogênio verde em pontos específicos, injetando diretamente o gás nos processos industriais. Por ser modular, a tecnologia permitiria adaptar facilmente o tamanho e capacidade do fotoeletrolisador às necessidades da indústria.
Aumentar ainda mais a escala da produção dos equipamentos está dentro dos planos dos autores do trabalho, mas isso exigiria investimentos significativos em infraestrutura e segurança para fazer os testes necessários. “É uma etapa crucial, e a colaboração com empresas interessadas é essencial”, diz o professor Flavio.
Esta pesquisa contou com financiamento da FAPESP, Shell, CNPq e Capes, além do suporte estratégico da ANP.
Referência do artigo científico: Rodríguez-
Membros do CINE que participaram do trabalho: Flavio L. de Souza.
Contato
Flavio Leandro de Souza
UFABC e CNPEM
