Pouco mais de um ano depois da aprovação, no Brasil, de duas leis sobre a produção e uso de hidrogênio de baixo carbono, essa molécula “verde” foi assunto do terceiro workshop organizado pelo CINE e o Cubo Itaú dentro da “Trilha de Transição Energética”. O evento foi realizado no dia 4 de setembro no prédio do Cubo, em São Paulo.

“A gente teve uma euforia no assunto de hidrogênio verde e depois o mercado deu uma pequena desanimada, mas agora o tema está voltando de uma forma mais pragmática”, diz a professora Ana Flávia Nogueira (Unicamp), diretora do CINE.

Definido pela lei 14.948, de 2024, o hidrogênio de baixo carbono pode ser obtido a partir de processos diversos, desde que as emissões de carbono geradas ao longo de todas as etapas de produção tenham um valor menor ou igual a 7 quilos de dióxido de carbono equivalente por quilograma de hidrogênio produzido.

“Acho que agora, finalmente, estamos entendendo qual pode ser o verdadeiro papel do hidrogênio sustentável”, acrescenta Cauê Ribeiro de Oliveira, pesquisador da Embrapa Instrumentação que atua no programa de Hidrogênio de Baixo Carbono no CINE. “Nossa expectativa é que, com a consolidação do Marco Legal do Hidrogênio de Baixo Carbono, possa haver maior interesse para reativar a cadeia de produção de fertilizantes, que é um dos maiores consumidores de hidrogênio no Brasil, só que agora como fertilizantes de baixo carbono”, diz ele.

Cauê foi palestrante no workshop, junto a três profissionais de longa e destacada trajetória na área de energias renováveis: Ansgar Pinkowski (fundador e CEO da Agência Neue Wege, dedicada a democratizar o assunto da Transição Energética), Davi Gabriel Lopes (diretor da GWM Hydrogen e a FTXT Brasil, do grupo automotivo chinês GWM) e a advogada Ligia Pereira Schlittler (sócia da Tozzini Freire Advogados e fundadora do grupo Mulheres de Energia, dedicado à liderança feminina no setor de Energia).

Em conjunto, os quatro especialistas abordaram aspectos tecnológicos, econômicos, sociais, ambientais e jurídicos da produção e uso de hidrogênio de baixo carbono. “A interação com os demais palestrantes foi muito produtiva, mostrando pontos de vista diferentes, desde outras aplicações até políticas públicas”, diz Cauê. “É um tipo de interação que precisa ser fomentada com mais frequência”, completa.

Na sua apresentação, Cauê mostrou que o hidrogênio obtido por eletrólise usando energia renovável (o chamado “hidrogênio verde”) pode ter concorrentes de peso no mercado do hidrogênio de baixo carbono, como o hidrogênio obtido a partir do biogás.  De acordo com ele, essa forma de obtenção pode ser uma boa oportunidade de curto prazo, por não demandar grandes mudanças na estrutura atual da produção de hidrogênio, hoje produzido a partir do gás natural, e sim, apenas, a substituição da matéria prima fóssil pelo biogás, que é produzido a partir de resíduos orgânicos por meio da ação de microorganismos.

 “Porém, isso somente irá se realizar se conseguirmos adaptar as estruturas de produção que dependem de hidrogênio, como a indústria de fertilizantes, para a escala de produção do biogás, que é muito menor do que a do gás natural”, explica Cauê.

Parceria CINE – Itaú

Desde o início de 2024, o CINE e o Itaú mantêm uma parceria para a disseminação de conhecimento sobre transição energética. Neste ano, as atividades ocorrem dentro da Trilha de Transição Energética – um ciclo de quatro workshops sobre temas estratégicos para acelerar a descarbonização da matriz energética brasileira. Os eventos são gratuitos e abertos a todo público, mediante inscrição prévia.

“As atividades que realizamos dentro desta parceria têm apresentado resultados muito positivos, com impacto real na difusão de conhecimento científico sobre a transição energética fora do meio acadêmico e mostrando todas as possibilidades de mercado que os novos combustíveis estão apresentando”, afirma Ana Flavia Nogueira, diretora do CINE.

Mais informações sobre o próximo evento.